[RESENHA] Solstício de Verão- Primavera Editorial



Título: Solstício de Verão

Autora: Edna Bugni

Editora: Primavera Editorial

Páginas: 269

Duas mulheres, duas Marílias, em um mesmo contexto histórico, o regime militar, trazem as angustias do sexo feminino. Divórcio, abandono, filhos em crise de identidade, uma família que nunca ofereceu apoio e as dificuldades femininas de consolidar uma carreira profissional no Brasil de 1968. Tudo isso junto e misturado em constantes mudanças.

São vários capítulos pincelados por uma descrição física e psicológica minuciosa de cada personagem. Cada Marília enfrentando as suas batalhas cotidianas uma apoiando a outra, apesar das semelhanças e diferenças. Pois é isso que as amigas devem fazer ouvir e oferecer colo.

Uma Marília voltada para as artes, ousada e sensual. Outra Marília entregue ao trabalho como uma válvula de escape para os problemas, a ponto de enterrar as emoções e perder o afeto. Apesar das diferenças de personalidade, ambas nasceram no mesmo dia do mesmo ano. Uma identidade cósmica como elas se referem.

A história começa a ser contada no momento do solstício de verão ( designa a posição do sol em um momento em que o astro-rei, se encontra em determinado ponto), 22 de dezembro, fim de ano, natal se aproximando. E como passar por essa época de festas e comemorações quando se está triste, infeliz, carente e perdida por dentro? Colocar uma máscara e usar a polidez entre os parentes parece ser a solução, mas não por muito tempo.

"Não há nada para se construir em cima do abandono."

"Marília, pense na vida como ciclos individuais a terminar e recomeçar. Apenas o seu ciclo com Jorge acabou. Não foi a sua vida, Marília! Pense nisso."

Confesso que no início teve pontos em que me perdi por não saber de qual personagem se tratava. Mas se você passar por algo parecido, seja lendo Solstício de Verão ou qualquer outro livro tente manter a calma e não desistir. E dessa forma, seguindo a minha intuição de que a obra prometia, além de muito angustia e  reflexão, um aprendizado enorme com essas mulheres que viveram em um período histórico tão intenso e contraditório, prossegui com a leitura. Assim, cada página foi um desafio até chegar nos rituais  de 31 de dezembro que culminavam não só no final do ano, mas no aniversário trágico de 50 anos dessas duas mulheres que se despedem de uma maneira inesquecível.

"Ao longe, o barulho de fogos comemorando a meia-noite de Ano-Novo. Quando tudo termina e tudo começa no momento seguinte."